sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O legado de minha Vó!

Já devo ter dito em algum momento por aqui que fui criada com minha vó materna, desde o 1º ano de vida e sai da casa dela somente no dia em que me casei, portanto foi dela as coisas que mais se aproximaram de mim.
Fazendo uma analise vejo, que boa parte do que sou inclusive de personalidade foi dela que aprendi. Minha vó na verdade, mais minha mãe que minha mãe, me criou, me educou, me alimentou, me amou a sua forma, e depois de mais velha a ensinei a amar da minha. Pois na época em que ela era criança  a forma de amor dos pais eram diferentes, me lembro que quando eu era menina, minha vó não era dada a demonstrações de afeto simples como abraços ou beijos, depois quando fui  ficando mais moça, eu a ‘’enfrentava’’, a agarrava em abraço apertado, ela até me fazia cócegas pra soltar e praguejava, e eu muitas vezes lhe lascava um beijo e saia rápido, pois a palmada mesmo que fosse so para me espantar era certa, ela tinha um jeito muito próprio e muito diferente do que via que as mães de minhas amigas tinham, mas minha vó já era idosa, afinal ela era vó, o que facilitou é que tinha uma tia que ajudou ela me criar, minha outra mãe, pessoa a quem amo e admiro, mas isso é caso pra outra historia, em outro post!
Voltando a falar de minha vó, pessoa que já partiu, foi pro céu! Eu as vezes tenho mais saudades que outras, passo dias, e acho que até alguns meses sem me lembrar dela, porém há outros dias, que a saudade bate e ai fica mais difícil, mesmo já tendo passado 4 anos e meio.
Analisando tudo que aprendi com ela, vejo que o seu legado foi muito maior do que ela tenha planejado, se é que ela planejou, eu acho que minha vó apenas viveu, mãe de 10 filhos, criados com dificuldade, ela deu conta do recado numa época de extrema pobreza como ela mesmo se lembrava muitas vezes, depois o maior desgosto foi cuidar do meu avô que ficou em cima de uma cama doente por 9 anos acho eu, eu nasci em agosto(faço mais uma primavera esse mês) meu avô morreu em maio do mesmo ano, acho que por isso ela quis me criar, talvez eu devo ter levado algo bom para um coração saudoso, se tinha uma coisa que era impressionante ver e ouvir era ela falar do meu avô e do amor que tinha por ele, tamanho respeito e admiração que confesso muito raros hoje em dia, eu admirava ela por isso.
Esse foi um dos legados que ela me deixou, que o amor é único, acontece, é possível, deve ser respeitado! Pelo menos é nisso que acredito.
Sempre muito religiosa, me lembro como se fosse hoje, ela não pode estudar, os pais dela diziam na época em que ela era menina que  menina não precisava estudar, porque o estudo iam deixa-las ‘’tontas’’, uma ignorância, mas pra’quela época acho que era aceitável, porque ninguém questionava só obedecia, então me lembro que assim que fui para a escola e aprendi a escrever ela um dia antes de dormir(eu dormia com ela na mesma cama) falou para eu pegar papel e lápis, porque ela ia me ensinar as orações que era para eu anotar para ler e não esquecer.
E assim o fiz e ela foi ditando, o pai nosso, depois ave Maria e depois a Salve Rainha, terminada ela disse que no dia que eu conseguisse ler e tivesse gravado na mente essas, que ai ela me ensinaria o Credo.
E assim ela o fez, quando passado uns dias sentei e fui recitar pra ela orgulhosa de mim as orações, depois de terminar, papel e lapís na mão e ela me recitou o Credo, e disse que eu devia rezar essas orações todos os dias!
Mas só isso, nunca me cobrou nunca me fez ficar ajoelhada, me ensinou, me passou e me deixou livre.
Mas esse legado de fé e oração, sim foi ela quem me deixou e somente agora depois de casada e com filhos é que pude ver que esse foi o melhor legado que ela pode me passar.
Agora se tem uma coisa inesquecível de minha vó, é que em 18 anos que morei com ela, e por toda a vida dela que eu me entendi por gente até o dia em que ela adormeceu e não acordou mais, eu nunca deixei de ver minha vó, sem uma linha de crochê nas mãos e uma agulha.
Lembro-me que quando ela era mais jovem ela fazia, toalhinhas, tapetes, biquinhos em guardanapo, ela dizia que não gostava de ficar parada, ela fez crochê a vida toda dela, e claro me ensinou também, eu sei o básico, por que ela me ensinou, mas eu não fiquei muito entusiasmada na época, aprendi apenas e deixei pra la.
Sempre comprava panos de prato e linha para crochê para levar pra ela, a única exigência era que a linha tinha que ser branca,quando mais jovem ela fazia bicos com outras cores, mas agora mais idosa, ela queria so linha branca, e sempre ela nos dava um pano com o bico pronto do que a gente levava para ela.
No dia que ela morreu, quando fui à cama dar meu ultimo tchau, em cima do altar de santo que ela tinha em seu quarto estava la o novelo de linha embrulhadinho com o pano e a agulha, ela tinha começado a finalizar o bico, não tive duvidas, peguei para mim, esta em casa guardado exatamente como ela deixou, e quando a saudade esta assim demais, eu pego abro e cheiro, posso garantir que o cheiro dela ainda esta la, então eu olho aqueles pontos, já não tão firmes como antes e me sinto mais próxima dela...
E foi lembrando deste outro legado dela, o crochê, que comprei estes dias, uma agulha e um rolo de barbante, e resolvi que ia colocar em pratica, e assim comecei um tapete.
Mas os anos sem pegar em uma agulha, me fizeram desmanchar umas inúmeras vezes, porque ora ficava curvado, ora ficava cheio de ondas, e eu tentei fazer, e refazer, até que decidi ir na net procurar como se faz, e achei, achei muitos vídeos, peguei o mais simples para começar e depois de quinze dias entre faz e desfaz consegui ontem finalizar meu tapete.


E acho que fazer crochê é bem mais terapêutico que colorir esses livros da moda ....sei la minha opinião.
E foi nesses dias entre uma laçada e outra de linha por apenas uma hora por dia que via meu pensamento fluir e ir além, e comecei a lembrar muito de minha vó, e comecei a pensar no que será que ela pensava tanto, e me lembrei muitas vezes de ver ela absorvida nos seus trabalhos, e ela não perdia tempo com conversa fiada, o negocio dela era crochê e foi assim ate o ultimo dia de sua vida, e hoje eu vejo que na verdade o crochê na vida da minha vó foi mais que um dom, foi uma terapia que transformou ela no que ela era, e que fez de mim o que sou, porque com toda certeza grande parte do que sou, sou por causa dela!
Obrigada vó esteja onde estiver, vou ''crochetear'' mais, porque acho que peguei o fio da meada!

Bjucas SoOonhadoras pra todos e bom fim de semana!

3 comentários:

  1. Uma bela homenagem e sem dúvida um belíssimo legado! Bom fim de semana!

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  2. Olá, menina da Vó Vó!

    É bom recordar tudo isso, pke você vive, de novo, esses tempos de criança e adolescente.
    Com ela você aprendeu, não só o básico, mas tudo o resto, e o amor é o maior legado, k ela te deixou.

    Boa semana.
    Beijos.

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  3. Que homenagem linda, tanto o texto repleto de lembranças como o tapete!
    Beijo

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