O legado de minha Vó!
Já devo ter dito em algum momento por aqui que fui criada
com minha vó materna, desde o 1º ano de vida e sai da casa dela somente no dia
em que me casei, portanto foi dela as coisas que mais se aproximaram de mim.
Fazendo uma analise vejo, que boa parte do que sou inclusive
de personalidade foi dela que aprendi. Minha vó na verdade, mais minha mãe que
minha mãe, me criou, me educou, me alimentou, me amou a sua forma, e depois de
mais velha a ensinei a amar da minha. Pois na época em que ela era criança a forma de amor dos pais eram diferentes, me
lembro que quando eu era menina, minha vó não era dada a demonstrações de afeto
simples como abraços ou beijos, depois quando fui ficando mais moça, eu a ‘’enfrentava’’, a agarrava
em abraço apertado, ela até me fazia cócegas pra soltar e praguejava, e eu
muitas vezes lhe lascava um beijo e saia rápido, pois a palmada mesmo que fosse
so para me espantar era certa, ela tinha um jeito muito próprio e muito diferente
do que via que as mães de minhas amigas tinham, mas minha vó já era idosa,
afinal ela era vó, o que facilitou é que tinha uma tia que ajudou ela me criar,
minha outra mãe, pessoa a quem amo e admiro, mas isso é caso pra outra
historia, em outro post!
Voltando a falar de minha vó, pessoa que já partiu, foi pro
céu! Eu as vezes tenho mais saudades que outras, passo dias, e acho que até
alguns meses sem me lembrar dela, porém há outros dias, que a saudade bate e ai
fica mais difícil, mesmo já tendo passado 4 anos e meio.
Analisando tudo que aprendi com ela, vejo que o seu legado
foi muito maior do que ela tenha planejado, se é que ela planejou, eu acho que
minha vó apenas viveu, mãe de 10 filhos, criados com dificuldade, ela deu conta
do recado numa época de extrema pobreza como ela mesmo se lembrava muitas
vezes, depois o maior desgosto foi cuidar do meu avô que ficou em cima de uma
cama doente por 9 anos acho eu, eu nasci em agosto(faço mais uma primavera esse
mês) meu avô morreu em maio do mesmo ano, acho que por isso ela quis me criar,
talvez eu devo ter levado algo bom para um coração saudoso, se tinha uma coisa
que era impressionante ver e ouvir era ela falar do meu avô e do amor que tinha
por ele, tamanho respeito e admiração que confesso muito raros hoje em dia, eu
admirava ela por isso.
Esse foi um dos legados que ela me deixou, que o amor é único,
acontece, é possível, deve ser respeitado! Pelo menos é nisso que acredito.
Sempre muito religiosa, me lembro como se fosse hoje, ela
não pode estudar, os pais dela diziam na época em que ela era menina que menina não precisava estudar, porque o estudo
iam deixa-las ‘’tontas’’, uma ignorância, mas pra’quela época acho que era aceitável,
porque ninguém questionava só obedecia, então me lembro que assim que fui para
a escola e aprendi a escrever ela um dia antes de dormir(eu dormia com ela na
mesma cama) falou para eu pegar papel e lápis, porque ela ia me ensinar as
orações que era para eu anotar para ler e não esquecer.
E assim o fiz e ela foi ditando, o pai nosso, depois ave Maria
e depois a Salve Rainha, terminada ela disse que no dia que eu conseguisse ler
e tivesse gravado na mente essas, que ai ela me ensinaria o Credo.
E assim ela o fez, quando passado uns dias sentei e fui
recitar pra ela orgulhosa de mim as orações, depois de terminar, papel e lapís na
mão e ela me recitou o Credo, e disse que eu devia rezar essas orações todos os
dias!
Mas só isso, nunca me cobrou nunca me fez ficar ajoelhada,
me ensinou, me passou e me deixou livre.
Mas esse legado de fé e oração, sim foi ela quem me deixou e
somente agora depois de casada e com filhos é que pude ver que esse foi o
melhor legado que ela pode me passar.
Agora se tem uma coisa inesquecível de minha vó, é que em 18
anos que morei com ela, e por toda a vida dela que eu me entendi por gente até
o dia em que ela adormeceu e não acordou mais, eu nunca deixei de ver minha vó,
sem uma linha de crochê nas mãos e uma agulha.
Lembro-me que quando ela era mais jovem ela fazia,
toalhinhas, tapetes, biquinhos em guardanapo, ela dizia que não gostava de
ficar parada, ela fez crochê a vida toda dela, e claro me ensinou também, eu
sei o básico, por que ela me ensinou, mas eu não fiquei muito entusiasmada na
época, aprendi apenas e deixei pra la.
Sempre comprava panos de prato e linha para crochê para
levar pra ela, a única exigência era que a linha tinha que ser branca,quando
mais jovem ela fazia bicos com outras cores, mas agora mais idosa, ela queria
so linha branca, e sempre ela nos dava um pano com o bico pronto do que a gente
levava para ela.
No dia que ela morreu, quando fui à cama dar meu ultimo
tchau, em cima do altar de santo que ela tinha em seu quarto estava la o novelo
de linha embrulhadinho com o pano e a agulha, ela tinha começado a finalizar o
bico, não tive duvidas, peguei para mim, esta em casa guardado exatamente como
ela deixou, e quando a saudade esta assim demais, eu pego abro e cheiro, posso
garantir que o cheiro dela ainda esta la, então eu olho aqueles pontos, já não
tão firmes como antes e me sinto mais próxima dela...
E foi lembrando deste outro legado dela, o crochê, que
comprei estes dias, uma agulha e um rolo de barbante, e resolvi que ia colocar
em pratica, e assim comecei um tapete.
Mas os anos sem pegar em uma agulha, me fizeram desmanchar
umas inúmeras vezes, porque ora ficava curvado, ora ficava cheio de ondas, e eu
tentei fazer, e refazer, até que decidi ir na net procurar como se faz, e
achei, achei muitos vídeos, peguei o mais simples para começar e depois de
quinze dias entre faz e desfaz consegui ontem finalizar meu tapete.
E acho que fazer crochê é bem mais terapêutico que colorir
esses livros da moda ....sei la minha opinião.
E foi nesses dias entre uma laçada e outra de linha por
apenas uma hora por dia que via meu pensamento fluir e ir além, e comecei a lembrar
muito de minha vó, e comecei a pensar no que será que ela pensava tanto, e me
lembrei muitas vezes de ver ela absorvida nos seus trabalhos, e ela não perdia
tempo com conversa fiada, o negocio dela era crochê e foi assim ate o ultimo
dia de sua vida, e hoje eu vejo que na verdade o crochê na vida da minha vó foi
mais que um dom, foi uma terapia que transformou ela no que ela era, e que fez
de mim o que sou, porque com toda certeza grande parte do que sou, sou por
causa dela!
Obrigada vó esteja onde estiver, vou ''crochetear'' mais, porque
acho que peguei o fio da meada!
Bjucas SoOonhadoras pra todos e bom fim de semana!
Uma bela homenagem e sem dúvida um belíssimo legado! Bom fim de semana!
ResponderExcluirOlá, menina da Vó Vó!
ResponderExcluirÉ bom recordar tudo isso, pke você vive, de novo, esses tempos de criança e adolescente.
Com ela você aprendeu, não só o básico, mas tudo o resto, e o amor é o maior legado, k ela te deixou.
Boa semana.
Beijos.
Que homenagem linda, tanto o texto repleto de lembranças como o tapete!
ResponderExcluirBeijo