Loucuras da vida (parte I) - Estoria
Cheguei a casa, e bati a porta atrás de mim, dando graças a
Deus e jogando as sacolas todas no chão, pensando que mais tarde daria um jeito
na bagunça, isso era uma das grandes vantagens de se morar só em minha opinião.
Fui até a cozinha, e enchendo um copo d´água, comecei a
relaxar pensando nas minhas férias que começariam ali naquele momento, seriam
20 dias de pura curtição, descanso, e descaso com as mesmices do dia-a-dia.
Eu já tinha meus planos, os primeiros 3 dias eu trataria de
comprar algumas coisas para casa, renovar algumas roupas do armário,guardar o
que eu não queria que ficasse disponível, pois aproveitei minhas férias para
locar meu apartamento, uma forma inteligente de ganhar algum dinheiro, ou pagar
algo de sua viagem, era minha primeira experiência, mas a Anali já fazia isso pelo
menos umas 3 vezes ao ano, muitas vezes era com o dinheiro da locação que ela
decidia o rumo da viagem dela. Eu iria
tomar um café com minha mãe um dia antes de embarcar para Salvador onde
programei uma semana de muita praia, sol, mar e pelourinho. Depois na volta pegaria
meu carro na garagem já com uma nova mala e iria aproveitar o campo de São
Paulo, uns 4 dias em Monte Verde e uns 3 em Campos de Jordão, e com sorte
voltaria revigorada para a loucura do meu trabalho e chatice de meu chefe.
Perdida em meus devaneios, me dei conta que meu telefone
tocava insistente, e com uma preguiça latente me dirigi até ele, bem devagar
rezando em silencio, que fosse quem fosse tomara que desistisse antes que eu conseguisse
chegar, mas pela insistência percebi, que eu não havia ganhado o desejo e na
espiadela no identificador de chamadas
vi o porque, era minha mãe!
- Alô!
-Oi querida!! Como vai??
- Oi mãe! Vou bem, e a senhora?
- Estava aqui ansiosa, esperando o horário que eu imaginava
ser possível você estar em casa, para lhe contar uma novidade!
Fiquei meio que em transe, eu amo minha mãe com todas minhas
forças, mas há nela defeitos como em todos e alguns eu não aprovo, um deles é
ficar na cola da vida da família toda, ou seja, tudo que for fazer e quiser
segredo minha mãe é a pessoa pra qual você não devia contar, simples assim.
- Bem estou aqui, acabei de chegar do trabalho e cansada,
muito cansada eu confesso, então se a senhora puder me colocar a par da novidade
(falei com a menor empolgação possível que eu tive condição pra ver desarmava
minha mãe daquela vez).
- Que isso Clarice!(o tom de repreensão dela era até meio
cômico), como assim cansada? Você esta de férias!
-Mãe, minhas férias começam a partir de amanha o que
significa que hoje eu trabalhei e trabalhei muito!
-Bem, eu entendo, mas só o fato de saber que esta de férias
deveria estar mais animada!
-Ok mãe vou pensar sobre isso, mas o que é de tão urgente
nessa novidade que não poderia esperar nosso café daqui uns dias? Falei séria,
firme, quem sabe meu desinteresse a animasse a não falar....doce ilusão.
- Tenho certeza que a noticia que lhe trago será de grande
alegria, e acho que a novidade não poderia vir em hora melhor! Sabe quem
encontrei no salão esta manhã?
-Não mãe, como poderia saber!(fui me agachando, sentando ali
mesmo no chão entre o aparador e a mesa, pegando o telefone e me entregando a longa historia que viria, porque
sim mais uma vez minha mãe havia vencido)
-A Claudia! Ela falou em tom animado e ansioso.
Tenho certeza, que senti o sangue sumir do meu corpo, gelei,
esquentei, e mais certeza ainda eu tinha que minha mãe era capaz de ver o meu
estado através da linha do telefone!
As perguntas insistentes, do outro lado da linha me fez ver
que talvez eu tenha ficado assim, tipo fora do ar por alguns momentos....
-Clarice! Clarice você esta ai? Filha você esta bem? Havia
preocupação na voz de minha mãe.
- Sim... Estou aqui (agradeci por estar sentada no chão,
pois com certeza o teria alcançado rapidamente em uma queda apos a noticia)...e
o que é que tem, que a senhora encontrou com a Claudia?. Eu perguntei, mas eu
temia a resposta, eu acho que eu já sabia qual era a resposta e ela veio...
-Então, que conversamos, e adivinha quem esta chegando ao
Brasil de novo depois de tantos anos??
Não podia ser! Seria demais para mim, pânico, medo, ansiedade,
e ai me dei conta, em 3 dias e eu não estaria aqui, respirei meio aliviada,
meio surpresa e respondi, afirmando e perguntado?!
-Alessandro?!
-Pois então Lice(Lice é meu apelido desde pequena entre a família
e amigos)! Olha há tanto que eu quero lhe contar que eu soube através da
Claudia!
- Mãe, eu não acho que seja um melhor momento, na verdade
minha campainha esta tocando acho que a Gil veio me trazer a mala que pedi
emprestada e além do mais te encontro em 3 dias, então até mais mãe, beijo!
Desliguei sem esperar resposta, sendo mal educada mesmo.
Não tinha Gil nenhuma, mas foi a desculpa que achei para
desligar o telefone. Aaaa sim! Vocês devem estar se perguntando quem é
Alessandro, pois bem, vou contar!
Na época do colégio, quando eu tinha 16 e ele 17 anos,
começamos a namorar, ele foi meu primeiro, e digo tristemente, único amor, pois
depois dele não consegui me relacionar com mais ninguém, não que eu não tenha
tentado, mas nada além de namoros de verão e só!
Namoramos por pouco mais de dois anos, ele já no primeiro
ano de faculdade e eu no ultimo do ensino médio, estávamos apaixonados, mas eu percebi
em um lindo dia de sábado, que ele não
me contava tudo, até aquele dia, o dia em que ele veio com a maior novidade da vida dele e a pior para
minha vida, hoje penso que se ele houvesse compartilhado os sonhos dele comigo
eu poderia ter feito meus sonhos se encaixar com o dele, mas não foi bem assim.
Naquela tarde de sábado ele chegou em casa com o carro dos
pais dele, senti uma pressão no ar ao sair no portão, eu conhecia ele o
suficiente para saber que ele estava tenso, e que algo não ia bem.
Entrei me aproximei e beijei-o, mas o beijo não foi quente e
nem apaixonado como tinha sido até o dia anterior.
-Esta tudo bem? Perguntei meio sem querer saber a verdade,
temendo a resposta.
-Esta sim! Trouxe isso para você! Ele colocou a mão atrás do
banco do carro e tirou de la um lindo arranjo de girassóis, eu amo girassóis,
alias amava, até aquele dia!
Peguei e exalei o cheiro das flores, embora girassóis não
possuam cheiro nenhum, era um habito que tinha não importava a flor eu sempre
gostava de verificar que tipo de olfato elas ofereciam.
-Obrigada, são lindas! Aonde vamos?
-Bem pensei em irmos ao parque e fazermos um pic nic, o que
você acha?
- Acho uma boa ideia!
Ele se aproximou me deu um beijo ligou o carro e partimos,
um silêncio, e eu vi nas reações dele, um nervoso que não era dele, era algo
anormal, e mesmo sem saber ao certo aquilo foi me matando a cada segundo até
chegarmos ao parque, e eu também não consegui proferir uma única pergunta,
porque eu sabia no intimo que eu não queria saber a resposta.
Descemos, e o Lê tirou do porta malas uma bolsa térmica, caminhamos até um local tranquilo e mais
reservado do mesmo, eu sabia que aquele nervosismo não era para um pedido de
casamento, porque não era um nervosismo de felicidade, era de tensão!
Como no automático arrumamos uma colcha e começamos a pegar
os lanches as bebidas e arrumar, aproveitei inconscientemente o arranjo de girassóis
no meio da ‘’mesa’’ improvisada, sentei em uma ponta e ele sentou na outra de
frente para mim, meio próximo.
- Lê! O que você tem? O que ouve? Eu consegui dizer.
- Lice, eu nem sei como ou por onde começar, eu só sei que é
meu tempo limite para lhe falar, e eu peço que me ouça primeiro e depois eu
prometo que eu vou lhe ouvir, mas deixe-me lhe falar primeiro ok!
Eu simplesmente balancei a cabeça em positivo, ele abriu uma
cerveja, colocou em nossos copos, ergue o dele e disse:
-Primeiro eu quero começar com brinde a você! Que é uma
garota linda, inteligente, que é o grande amor da minha vida e que me deu inúmeras
alegrias nesse tempo de namoro, a você Clarice, minha Lice, que é e será meu
eterno amor!
Eu somente levantei meu copo bati com o dele com um acenar
de cabeça confusa e tímida!
- Lice – ele começou – começamos a namorar há um tempo, dois
anos mais precisamente, e enquanto nossos amigos estavam na fase da curtição,
cada dia com um, nossa curtição era estar junto, conversamos algumas vezes
sobre futuro, planos, mas como jovens, a gente sempre soube que se tem uma
coisa que temos é tempo, e de certa forma nos nunca paramos para discutir
coisas do nosso futuro juntos ou não né!
Eu continuei olhando e absorvendo cada palavra dele, bebericando
minha cerveja, acreditando que ela me daria naquele momento a calma que tanto
precisava e ele continuou me olhando nos olhos.
- Bem, na verdade eu também não havia pensado muito sobre
futuro, escolhi o curso de engenharia na faculdade sem ter certeza se era o que
queria, mas como sou jovem eu pensei, se não gostar posso mudar de curso, e ai
conversando com o Bruno, sabe o Bruno?
Balancei a cabeça em positivo, eu sabia qual Bruno, o primo ‘’galinha’’
dele!
- Então ele me trouxe um panfleto da escola de inglês dele,
onde ofereciam a oportunidade de cursar uma faculdade nos Estados Unidos, uma oportunidade
de intercambio com profissionalização com uma bolsa, e tudo o que era preciso
fazer era uma prova. Eu não acreditei muito nessa possibilidade, foi uma coisa
da qual nunca quis saber, intercambio, estudar, trabalhar fora entende?!
Novamente eu só fiz que sim com a cabeça, ele havia pedido
silêncio, e naquele momento eu confesso não estava tão difícil de manter a boca
calada.
- Eu fiz a inscrição, e quando já havia esquecido fui
chamado para fazer a prova, fui lá e fiz a prova sem muita expectativa, eu juro
que eu nunca pensei que fosse dar certo que eu teria pontuação o suficiente,
afinal eu terminei o curso de inglês há uns 5 anos atrás, eu não tinha
esperança nenhuma e pra falar a verdade nem vontade de que desse certo, sabe
fui fazer só por fazer, naquela historia que o não eu já tinha. E ai há 15 dias
a escola ligou pra mim, disse que eu havia conseguido a bolsa, eu....eu não
acreditei, a ficha demorou a cair....eu nem queria aquilo!
Fiquei branca, na verdade eu acho que transparente, eu já sabia
o que vinha a seguir, eu já sabia que eu não queria ouvir o resto, eu queria
sair dali, voando, alias me teletransportar, queria ter virado fumaça.Mas tudo
que consegui foi fazer um aceno incentivando ele a continuar.
- Fui até a escola converse, analisei, os prós e contra e Lice,
é uma oportunidade única, e eu pensei em desistir, mais por nós dois, mas por
outro lado, como eu disse somos jovens e pensei que talvez isso não fosse tão
complicado, seria no máximo por 5 anos, e eu......eu pensei que a gente pudesse
continuar o namoro mesmo eu lá e você aqui, daríamos um jeito de nos ver nas
férias..........
Senti que não havia mais nada que ele pudesse colocar nessa
conversa, ele estava ali diante de mim dizendo que ia embora, que a
oportunidade da vida dele apareceu, eu entendia, eu só não compreendia!
- Posso falar agora? Perguntei sem demonstrar nenhuma
emoção.
Foi a vez dele apenas me olhar nos olhos e assentir com a
cabeça
- Olha Lê eu entendo, eu só não sei por que você não me
contou, sobre isso, mesmo se tinha uma possibilidade muito remota de dar certo,
ainda assim, essa possibilidade existia, e agora você viu que ela existe e que
não haverá mais jeito para nós, só temos uma única opção, e você sabe que um
namoro a distância não é essa opção.
Percebi-o ficando vermelho, vi a falta de rumo nos olhos
dele, ele pegou outra cerveja, colocou em nossos copos e o silencio entre nós
ficou insuportável até ele dizer:
- Lice claro que há um jeito! Podemos manter nosso
relacionamento por e-mail, carta, MSN,SMS(naquela época não existia whatsap,
facebook), podemos nos ver pelo menos duas vezes no ano, durante as férias! Se
quisermos daremos um jeito.
- Lê, pense bem você estará do outro lado, conhecendo novas
pessoas, não é preciso ser muito inteligente, pra vermos que isso não dara
certo, eu sei que você não pode perder essa oportunidade, e não deve, eu te
apoio totalmente, eu só não sei como vai ser aqui sem você!
As lagrimas insistentes saíram, conseguiram achar um caminho
e desceram sem nenhuma cerimônia pela minha face, revelando o que eu sentia, ao
olhar para ele, pude ver que as lagrimas dele conseguiram a mesma façanha
entregando o que ele também sentia.
Aproximei-me dele, me aconcheguei em seus braços, quentes,
senti aquele cheiro que só ele tinha, ele me abraçou forte cheirou meu cabelo,
e ficamos assim por um temo entregue as lagrimas, porque nenhuma palavra mais
era necessária.
Depois do que pareceu ser uma eternidade, quando as lagrimas
pareciam ter conseguido ser finalizadas, eu perguntei:
- E então quando vai ser? Quando você vai embora?
- Em 3 semanas!
- De certa forma estou feliz por você, mas não posso deixar
de perguntar o que faremos até la?
- Bem vamos ficar até la, e vamos manter contato, e quando
eu voltar a gente vê o que faz!
Ficamos ali, comemos,
tentamos falar sobre outras coisas, nos beijamos muito, e nos abraçamos muito,
mas não fizemos juras de amor eterno, ambos sabíamos o que tínhamos, só não éramos
maduros para lidar com aquilo e com o que viria com aquela mudança.
Resumindo, no sábado seguinte eu parti, fui para o interior
na casa da minha madrinha, e fiz pior com ele, mas a intenção não era
machuca-lo, mas sim me poupar, pensei que já que tinha que ser, me antecipei,
conversei com meus pais, expliquei, e eles entenderam, me apoiaram.
O Lê, minha mãe disse que ficou inconsolável, quando apareceu
em casa no sábado a tarde e eu não estava mais lá, é claro que os telefones da
minha madrinha não foram passado, e que o meu numero foi cancelado.
Eu não o levei ao aeroporto, conforme eu havia prometido que
faria, eu tive uma semana para aos pouco me distanciar, depois daquele sábado ,
o vi apenas mais duas vezes, para apenas rápidos beijos e abraços, e algumas palavras
de carinho, no mais nos falamos, por telefone, por sms até sexta a noite, onde
finalizamos nossa conversa com ele me escrevendo seguinte mensagem :
-‘’eu te amo’’
E eu simplesmente respondi de volta:
- =)!!
....CONTINUA....
bjucas soOonhadoras!!!
Oh! Meu Deus!
ResponderExcluirCinco anos é muito tempo e dois encontros por ano é nada. Cheira-me a tragédia!
Aguardando.
Beijo
Estou gostando...Bj
ResponderExcluirE que "loucuras", mas elas acontecem na realidade.
ResponderExcluirVocê tem um jeitão pra escrever e fazer trama. Vamos continuar a leitura!
Penso postar esse fim de semana. Aguardo você. Obrigada!
Beijos.